Himitsu Sentai Goranger (o quadrinho, não a série de TV)



Vocês sabiam que o nome do SRT veio do bloco de herói que passa Kamen Rider e Super Sentai na TV Asahi?
Agora você sabe, e saber é metade da batalha!

Pois é, faz um bom tempo que não escrevo sobre tokusatsu, basicamente porque eu não tenho tempo infinito pra gastar meses e resultar em um único artigo que só vai ser lido por meia dúzia de internautas, já que os usuários alfabetizados na internet estão se isolando da internet.

Ou estão sendo obnóxios no Substack.

Porém, eu ainda gosto muito do estilo, e assistir Kamen Rider no Prime Video no meu próprio tempo, sem ter que maratonar tudo em prol de uma deadlinem, tem sido um hábito saudável. De fato, eu tenho feito isso com praticamente tudo que assisto, porque eu sei que quem tem que ler isso aqui, vai achar de um jeito ou de outro.

Eu só tenho que sacrificar alguns Labubus no altar dos deuses do SEO.


Enfim, Goranger!




Antes de respeitar Shotaro Ishinomori como criador de Kamen Rider e Super Sentai (e outros heróis do mesmo estilo), é importante lembrar que ele é um criador respeitável o suficiente pelo tamanho e variedade de suas obras de maneira geral. Assim como Tezuka, Shotaro era um autor bastante prolífico, e conseguia navegar entre super-heróis, drama, garotas mágicas, e até dramas e comédias pra um público mais velho (foreshadowing).

O que sempre me soou curioso é como Tezuka é muito mais conhecido que Shotaro. Não sei exatamente o motivo, e estudiosos mais próximos da área poderão explicar melhor (mas não acho que o Nagado leia meu blog, então talvez nunca saberei a resposta). O que eu sei, é que conta-se que deram a Shotaro o apelido de “rei do mangá (sic)”, e Tezuka, talvez com ciúmes, perguntou qual seria seu apelido. Shotaro (que havia sido aprendiz de Tezuka), diz que Tezuka seria o “deus do mangá (sic)”, e isso satisfez o velho

É irônico pra mim que o apelido tenha vindo (supostamente) do Ishinomori, mas sua fama por essas bandas é basicamente “ele criou o que depois viria a ser os Power Rangers”.

Eu sempre quis ler e conhecer mais sobre Ishinomori, mas infelizmente a grande maioria de suas obras não são traduzidas. Digo, Fantasy World Jun não tem diálogos, o que é bom nesse sentido, mas ainda assim é obscuro o suficiente pra não ser publicado de maneira abrangente. E se for, cê só vai achar na Livraria Cultura em formato omnibus, custando um terço de uma feira pra três pessoas e ainda assim vai ter dificuldade pra ler o negócio porque ele é mais grosso que uma Bíblia de estudo King James.


Goranger é assim e eu já acho meio ruim de ler


Sério, sempre que eu presencio um daqueles volumões de Conan eu sinto uma agonia tremenda, e é suficiente pra me desestimular a comprar, por mais desconto que tenha. Omnibus não é um formato ruim na teoria, mas na prática, a teoria é outra.

Onde que eu tava? Ah, é. Ishinomori não é muito publicado por aqui. Então, assim que eu soube que a edição definitiva (com asterisco) de Goranger estava em promoção na Amazon, eu tratei de comprar logo. Não só por estar absurdamente barato, mas por não ser parte de uma série, que exigiria que eu desembolsasse mais outros mangos pra completar a coleção.

A própria série de Goranger não estava legendada até uns bons anos atrás, e agora tá no Web Archive, disponível pra todos, do jeito que é pra ser.

Mas a série é bem diferente da versão em quadrinhos… Ou melhor, das versões, porque tem três delas.

Pois é!


A história da série é baseada em espionagem, o que é bastante irônico considerando que são heróis que usam cores berrantes, adereços espalhafatosos, escorredores de macarrão como visores, e gritam o nome de seus golpes enquanto os aplicam, o que faz a O.W.C.A. parecer o Mossad em comparação.

Se bem que os vilões de Goranger usam o exato mesmo modus operandi, então… do que é que eu sei?


Ma bene, a história começa quando uma organização terrorista chamada Black Cross começa a destruir e matar várias células da organização de espionagem global, mas milagrosamente alguns de seus membros acabam sobrevivendo, o que é suficiente pro esquerdista médio de internet dizer que a Black Cross não fez nada de errado.


Os sobreviventes se reúnem em uma loja de curry local, se apresentam uns aos outros, e começam a usar os aparatos, uniformes, e veículos gigantes pra lutar contra a organização do mal da maneira mais barulhenta e destrutiva possível, porque se tem algo que eu aprendi com a cultura pop, é que espiões são extremamente espalhafatosos e notáveis. Pergunte a Freddie, o Sapo.



E… É isso aí. A série tem seus próprios plots, mas o estilo de narrativa dos anos 60 não dá muita liberdade pra desenvolver muito alguns aspectos básicos de narrativa que são comuns hoje. O que é normal, outros tempos, outra cultura, outros propósitos. Até porque a série durou quase 90 episódios e alguns filmes, eu ACHO que se isso fosse um problema gritante, a série teria ido pro beleléu mais cedo.

E sim, eu tenho certeza que desenvolvem melhor os personagens lá pra frente, só que, de novo, eu não disponho de tempo infinito pra assistir tudo de uma vez. Teria se o SRT fosse meu full-time, o que infelizmente ainda não é possível.

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Na nossa versão impressa, há mais detalhes e diferenças da série transmitida pela ANN (a emissora da TV Asahi, não o Anime News Network). O membro vermelho-líder é filho de um dos chefes de uma das delegações japonesas, e treinou o pirralho a vida inteira unicamente pra esse momento, e ele… meio que não quer.

Ele acredita ser um peso muito grande, muita responsabilidade, mas após eventos trágicos, ele é forçado a aceitar o manto rubro e partir pra porrada, defendendo o Japão e o mundo da Black Cross.

Junto de seus recém-companheiros, porque não existe "watashi" em "sentai".
...
Eu acho. Essa piada só funciona em inglês e eu não sei japonês o suficiente pra bolar uma punchline melhor. Desperdicei o meu tempo e o de vocês! Horaay!

Essa versão tem uma narrativa mais coesa, mais fluida e interessante. Embora não se leve tão a sério em alguns momentos, é notável que há uma tentativa de drama com uma narrativa visual interessante. Os desenhos nos quadros não só guiam o olho do leitor para a próxima ação com competência, mas também são dinâmicos, com poses, expressões, e traços tão vibrantes que são quase animados.



Ishinomori era um cara que se inspirava um bocado em cinema pra fazer as ilustrações, e ele era bastante competente pra fazer exatamente o propósito que sua mente planejava. Se queria que fosse engraçado, conseguia fazer bonecos com caretas exageradas e situações cômicas; se queria ser profundo, dramático, trágico, dinâmico, e até beirando o terror, ele fazia Kamen Rider Ichigo.

E aqui temos bons exemplos de como ele conseguia balancear diversos estilos sem destoar do traço próprio, porque há momentos de comédia (com os membros verde e amarelo, que são estereótipos com uma boa dinâmica), e momentos de tramas com reviravoltas, como é típico de uma história de espionagem.

Akira, o Midoranger, é meio palhaço e vive fazendo charadas pro Kiranger resolver. Kiranger, por outro lado, é um gordo grandalhão, o que, segundo as leis da comédia e de Bonanza, se o cara é gordo, ele provavelmente é forte.
Tá certo que ele é literalmente um super-herói cuja força vem do uniforme cibernético, então é justo imaginar que ele seja praticamente um Otis da vida.

Otis o lutador, não o boi de O Segredo dos Animais, seu réptil imundo e sem cultura!


O membro azul é o tipo silencioso e até meio suspeito, no início. Pouco é dito sobre ele, mas sabe-se que ele é leal à causa, pelo menos.

E tem a Peggy, que é uma japonesa com nome americano que… tá lá. Pois é.

É.




É uma pena que a história pareça ter acabado pouco depois de ter começado, porque ao que me parece, ela poderia ter sido a próxima a ter um pouco de seu passado e personalidade exploradas, assim como o Aoranger foi. Passamos muito mais tempo conhecendo Akaranger do que os outros, que não passam de clichês ambulantes (fora Aoranger, que tem uma história focada nele).

Mas o propósito da história é basicamente apresentar os membros e ser um chamariz pra série de TV… que tem o plot diferente do quadrinho, então eu não sei exatamente qual era a idéia aqui.
De verdade, informações sobre essa HQ são muito difíceis de encontrar, e se são encontráveis, tão em japonês, um idioma que eu tou aprendendo, mas o Duolingo torna tudo um pouco mais difícil.


Por exemplo, eu achei essa capa aqui que mostra os outros membros caindo de amores pela Peggy, que inclusive é desenhada com mais detalhes biológicos que o uniforme permitia salientar:



É estranho, porque não existe nenhuma storyline assim no volume. Pode ser só uma capa engraçadinha pra atrair a atenção de moleques de 13 anos que a essa altura talvez estivessem parando de comprar o gibi, mas pelas fotos dos outros volumes, parecem histórias mais longas. Eu não sei, é muito bisonho, mas é um material extremamente raro de pipocar num dos zilhões de sites de leitura online.

E sim, eu usei o termo "gibi", me convença que estou errado ou vá pro raio que o parta!




O que não quer dizer que não seja uma leitura prazerosa, muito pelo contrário. É uma baita experiência poder ler, no idioma materno, uma obra do Ishinomori. Sobretudo, uma obra que é tão produto de seu tempo que é fascinante analisar design, construção de personagem e narrativa.

O traço do Shotaro é outra coisa à parte, mesmo com personagens um pouco cartunescos, havia um peso que se sentia real quando necessário, o que me lembra muito as obras de Carl Barks, Paul Murry e Don Rosa, e alguns artistas da MSP antes da espiral de decadência.

Mas esse não é o único arco, porque a segunda metade do livro é a segunda série de Goranger, e é um pouco diferente.

A primeira parte é uma história praticamente contínua, você nota que há uma separação narrativa entre uma coisa e outra, mas não tem um separado capitular entre eles. Na segunda run, é estabelecido a divisão entre as histórias, com um ritmo um pouco mais lento, mas com um plot que se resolve facilmente.




Eu sei, é estranho, mas é o exato sentimento que me passou. Passamos mais tempo nos quadros, apreciando o ritmo mais lento da narrativa, mas quando o vilão se revela, tudo é resolvido rapidamente.

Claro, uma época de heróis diferentes de hoje, que eram mais bastiões da moral e exemplos inalcançáveis de heroísmo, que dão conta do recado com sagacidade e perspicácia. Mas a narrativa ainda tenta dar um pouco de suspense, te fazendo questionar se o herói vai conseguir sair da enrascada.

Imagine o Batman de Adam West se ele se levasse a sério, é mais ou menos a vibe que Goranger passa.

Aqui Ishinomori adota mais o esquema “monstro da semana”, com um vilão diferente a cada história atazanando nosso esquadrão. As histórias seguem uma vibe de sci-fi e paranormal, com uma lógica narrativa de investigação. Ou seja, me fez lembrar afetuosamente de Dekaranger, mas a referência provavelmente vem de Ultraman e Ultra Q.

De fato, Ultraman é citado nominalmente aqui, assim como Kamen Rider. Como isso se encaixa na lore maior de Super Sentai… eu não faço idéia, mas tem aquele episódio de Power Rangers Ninja Storm que eles assistem Hurricanger.



Embora talvez não seja pra todo mundo, é uma excelente maneira de se passar uma tarde. São histoŕias rápidas de ler, mas com um traço fantástico, que exala originalidade e habilidade, mas também tem vários aspectos de design típicos da época (se você leu qualquer coisa da época sabe do que tou falando, dá pra botar o Doraemon junto de Goranger e Ashita no Joe sem muito problema).

Mas houve uma terceira série, e provavelmente por questões legais, é praticamente impossível de encontrar.

Ou talvez a Ishinomori Pro. faça de tudo pra esconder que ela existe.


 




Há pouquíssimas, e eu digo praticamente nada, de informações sobre Himitsu Sentai Goranger Pretend (Himitsu Sentai Goranger Gokko).

“Pretend”, as in, “fingir” ou “interpretar”, ou ainda, “brincar”. A história revolve em torno de um grupo de crianças que fingem serem os Goranger. Um plot adorável, até que você pesquisa mais e descobre que gradualmente a série se tornou uma comédia mais pesada, contendo nudez constante e humor de banheiro.

…eu acho. Tou me baseando pelo que o Wikipedia japonês diz e algumas imagens que achei na internet japonesa.


Aparentemente tem alguma personagem chamada Sukebei que já foi vista despida por todos os personagens, o que no caso do vermelho significa que ele vai ter uma reação alérgica, porque ele tem o piripaque do Chaves e roseia o rosto toda vez que vê mulher pelada ou de bikini. Tem uma bruxa feia que faz maldades com todo mundo na cidade; uma versão DUMAL dos Goranger, uma guria delinquente que faz bullying com a Momo; e… é, a Momo é quem sofre mais nas mãos da bruxa, que sempre dá um jeito de rasgar completa ou parcialmente as roupas da ranger rosa.



LITERALMENTE piadas de banheiro.
Parece o tipo de coisa que Family Guy faria.

Segundo a página da Wikipedia, Shinchiro Shirakura leu esse quadrinho quando jovem e ficou chocado com a direção que os Goranger tomaram (aparentemente outros autores assumiram o título?). O nome não te é familiar, mas ele foi produtor de séries como Zyuranger, Jetman, Kamen Rider Kuuga, Kamen Rider Den-O, e outros.


E não é como se Ishinomori se eximisse de fazer material mais maduro, ele certamente se inclinou bem mais a isso no final de sua vida, como em Cyborg 009, mas sempre com alguma classe, no tempo certo, e pro público certo, nunca parecendo um filme dos Irmãos Wayans.


Seja como for, talvez por ora essa versão específica de Goranger não seja interessante de trazer… talvez de maneira nenhuma. Talvez como um exclusivo digital, quem sabe, por motivos históricos. Mas há muito mais material de Ishinomori pra trazer, com um valor artístico melhor.


Infelizmente não vivemos mais na época em que bastava você espirrar que a JBC ou Conrad tava assinando um contrato de distribuição aqui, caso contrário haveria alguma chance disso ser publicado em minúscula escala.
Sério, fui numa daquelas feirinhas de livros de shopping esses dias, tem título dos anos 2000 que eu nunca ouvi falar nem mesmo pelo título em japonês, e olha que eu costumava frequentar ambientes de otakus em estado terminal, que mencionavam títulos como quem menciona o que comeu no almoço. Daonde raios tanta coisa brota no passado?

Pesquisando por "ゴレンジャーごっこ twicomi" no Google cê acha uma pancada de capítulo, mas eu não consegui confirmar com certeza o suficiente se eles publicaram todos, tampouco achei uma versão com tradução em inglês fidedigna.

Talvez algum dia eu faça um artigo no Post Blogum só sobre isso, quando eu tiver paciência.


Anyway, Goranger é bom e vale seu tempo, sobretudo pelos 20 reais que estava na promoção que peguei. Não sei se vai estar a esse preço quando cê abrir o link de afiliado aí embaixo, mas se estiver, pode ir sem medo, é uma baita obra de um baita autor, além do tokusatsu.

Se tiver interesse, você pode encontrar variavelmente barato nos links de afiliado abaixo. Fazendo isso, não só vai estar engordando sua coleção com uma boa gordura, mas também ajudando a continuar o trabalho aqui no SRT! Porque por incrível que pareça, eu não me alimento de pixels ainda.




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